ULTRAPASSAGEM POR FORA NA CURVA 1 NA MADRUGADA
CURVA 1 DE TARUMÃ, LIDERANDO
O carro foi Preparado pelo João Mascarello, fizemos a desmontagem total do Carro, e praticamente refizemos o carro na parte mecânica e eletrica, deixamos somente a mesma a parte estética do carro, tudo peças novas, esquema para vencer.
Na tomada de tempo abri a volta cronometrada e quando cheguei na curva do Laço, disparou o motor, e para não "tirar de Giro" desliguei e encostei na parte interna na Curva. Não consegui fazer uma volta sequer cronometrada, e fui para a ultima posição no Grid, tinha soltado uma agulha do carburador.
A estratégia seria, por eu ser mais experiente, largar e Pilotar as 3 Primeiras horas, que era o máximo que o regulamento permite para o inicio de Provas Longa, e a minha parte da pilotagem também previa a ultima parte, que seria a chegada, caso ainda estivessemos na prova.
Assim, esperei com a 1.marcha engatada, pé na embreagem, e o dedo colado no botão de Partida, ao dar a largada, acelerei e a mão do botão de partida ja escorregou para o cambio engatando a 2.marcha, e entre Chevette, Voyage, Corsas, fui abrindo caminho em direção a Curva 1.
ACIDENTE NA MADRUGADA, O MASCARELLO PUXANDO A FRENTE DO CARRO, EU DE CASACO VERMELHO INDO VER O ESTRAGO NA DIANTEIRA
O Mascarello sempre com a tecnica de colocar a correia com o motor funcionando, colocou nova correia e novamente estávamos na Prova, embora nas ultimas Posições.
As 5:00hs da manhã entra novamente nos box o carro, com os faróis quebrado devido a uma batida, assumi o carro com os faróis que sobraram virados para baixo, mas como o dia estava amanhecendo, não atrapalhou muito, e assim fomos encontrando a manhã, já cansado, os olhos ardendo e o sono incomodando.
As 10:00hs da manha assumo o carro e noto que tínhamos uma vareta de válvula torta, o carro não passava de 4.500,00 rpm e quando forçava a 3.marcha o vareta a vibrava e ameaçava quebrar, tive que começar a cambiar bem antes do normal.
As 10:30hs o carro perde completamente o freio, nada de freio, o pedal do freio ficou igual ao da Embreagem, pois tinha partido um cano do freio de uma das rodas traseiras, e a Direção da Prova estavam começando a chamar os carros para as penalizações, por algum problema na madrugada.
O ULTIMO PODIUM, MISTURA DE ALEGRIA E TRISTEZA
Mas, ao chegar ao local, o Dirigente me aguardava parado na saída dos box, e eu sem freio e sem poder segurar na caixa, senão a varetinha de válvula quebrava, fiz sinal para ele sair, ou iria ser atropelado, e ele quando notou que eu não tinha freio, fez sinal para eu continuar e retornar a Pista.
Nas voltas seguintes, fiquei observando se seria dado BANDEIRA PRETA para o Speed 11, ou se eu seria chamado novamente para cumprir a penalização. Para meu alivio, veio novamente a bandeira para cumprir penalização e não a Desclassificação da Prova.
Agora, o diretor da Prova me aguardava não na minha frente, mas mais junto ao muro dos box, e ai pude explicar que estava sem freio e sem condições de segurar na caixa de cambio, o que ele sorridente me disse que dera para notar, pois quase fui atropelado.
Assim regressei a Prova, sempre Pilotando o Speed 11, pois o Mascarello sugeriu, e eu concordei, em levar o carro até a bandeirada pelo estado que ele se encontrava, e por ter mais experiência.
Fui me arrastando, e cada vez o carro mais lento, e perdendo rendimento, quando entrava o PACE CAR, e andávamos lento, eu tinha que manter a rotação do motor alto, pois eu sentia que se apagasse o motor, ele não pegaria mais.
Procurava tirar o máximo de proveito quando conseguia, e nas curva onde precisava de freio, fazia a traseira escapar lentamente, e matar um pouco a velocidade para contornar o Laço, no Tala entrava direto, pois ele não ganhava muita velocidade entre o Laço e o Tala Larga.
Às, 11:30hs no ultimo PIT STOP, o Mascarelo me avisou que estávamos em 3. lugar, e que o carro do Marcos Pinto, que estava na segunda posição, tinha abandonado na Curva do Tala, e que nós tínhamos 409 voltas e eles tinham 419 voltas, e se quisessemos o 2. lugar, teria que tirar essas 10 voltas nos 30 min. finais.
Nessa ultima meia hora de Prova, o SPEED 11 estava cada vez Pior, isso me desgastava muito na Pilotagem, e varias vezes conversava com ele pedindo:
Filho, aguenta mais um pouco, não me abandona agora, conversava com ele, e procurava aproveitar o máximo aquelas imagens de dentro da pista, pois algo em meu coração dizia:
" Você não verá mais essas imagens, e não sentiras mais essa adrenalina, é hora de voltar para casa"
Na ultima volta, ao sair da curva 9 e entrar na reta vi a bandeira quadriculada, ainda não sabia que tinha tirado os 10 voltas de vantagem e que estava em 2. Lugar.
SPEED 11, PELA MANHÃ, JA LENTO E SEM FREIO
Ascendi os poucos faróis que me restavam, as lágrimas escorreram, passei a linha de chegada sem enxergar direito e encostei o SPEED 11 no Parque fechado, e depois da vistoria, ao levar eles de volta ao box, o motor não pegou mais, tivemos que empurra-lo.
No podium novamente olhei com carinho e me despedi daquele lugar, onde estive tantas vezes, e me sentia feliz, pois sabia que não o viria mais, como realmente aconteceu.
O meu troféu de 2.lugar me foi entregue pelo filho do Pedro Carneiro Pereira, morto na década de 70, e ao apertar a mão do filho do Pedro Carneiro, eu sentia que era o proprio Pedro que me entrega o troféu.
Mesmo após pilotar o total de Nove horas, não conseguia dormir naquela tarde de Domingo, sentia uma mistura, de alegria, tristeza, ansiedade e saudade.
Nunca mais retornei ao autódromo Tarumã, se um dia voltar aquele autódromo onde fui tão feliz, retornarei pilotando, para a minha corrida de despedida, que ainda estou devendo para mim mesmo.
ULTIMA FOTO TIRADA EM TARUMÃ COM O SPEED 11
" OS SONHOS, SÃO FEITOS PARA QUEM NÃO TEM MEDO DE REALIZA-LOS "
Airton Brum
Campeão 12 Horas de Tarumã - 1996
V ice - Campeão 12 Horas de Tarumã - 1998
" O SPEED 11 FICOU 12 ANOS GUARDADO EM MINHA GARAGEM, ENVELHECENDO.
PRETENDIA GUARDA-LO E RETAURA-LO.
TAMBEM TIVE A IDEIA DE DOA-LO PARA O MUSEU DOS CARROS DE CORRIDA DE PASSO FUNDO, ONDE MEUS NETOS PODERIAM VE-LO, DO MESMO JEITO DE QUANDO EU COMPETIA.
MAS EU SENTIA QUE ELE DEVERIA CONTINUAR VENCENDO, EM ABRIL DE 2010 VENDI O SPEED 11 PARA UM PILOTO, QUE CONVERSANDO COM ELE, VI NELE TODA A PAIXÃO E AS DIFICULDADES QUE EU TIVE NO INICO DA MINHA CARREIRA.
O SPEED 11 ESTA CORRENDO EM FLORIANOPOLIS. UM GRANDE VENCEDOR, TEM QUE CONTINUAR VENCENDO"
legal
ResponderExcluirEstou com olhos moiados, ri e chorei por vezes em seus depoimentos, foi emociante
MEUS PARABENS BRUM
Gracias meu amigo
Excluireu tambem ja ri e chorei ao fazer este blog
um grande abraco
Muito bom ler a história de sua carreira dePiloto!
ResponderExcluirParabéns, a gente sente a emoção em cada linha que lê! Muito sucesso hj e sempre!!!!
Obrigado Nadia...
ResponderExcluirVc sempre uma amiga muito gentil...
um beso